A operação Carne Fraca e a força da comunicação
Não há
dúvida da importância da operação realizada pela Polícia Federal para coibir
desvios de conduta de fiscais do Ministério da Agricultura junto a frigoríficos
espalhados pelo país. São os fiscais que podem garantir que os produtos que
saem das fábricas estejam de acordo com o que todos esperamos e com o que
mandam as regras do Ministério da Agricultura. Se os fiscais aceitam suborno
para ‘não ver’ determinadas práticas adotadas por alguns frigoríficos, é nossa
saúde, no final das contas, que pode acabar ‘pagando o pato’.
Porém aqui
não vamos falar da operação em si, mas sobre o que ela envolve de comunicação,
para o bem e para o mal. E começamos com o mal: a forma como ela foi divulgada.
O Brasil
depende do agronegócio e todos sabem disso. O setor praticamente sustenta o país
neste momento de crise, exportando para o mundo todo e garantindo recursos
importantíssimos para manter o Brasil funcionando. E não é por acaso que nossos
produtos são exportados para países de todos os continentes, porque se todos
querem preço baixo, também querem (ou principalmente querem) qualidade. E os
produtos de origem animal produzidos aqui são reconhecidamente de ótima
qualidade.
Pois eis que
numa sexta-feira, dia 17 de março de 2015, o país ficou estarrecido com a
divulgação de que fiscais aceitavam suborno para não fiscalizar corretamente
algumas
empresas que estariam ‘adulterando’ as carnes e embutidos; que alguns produtos estavam recebendo água para aumentar o peso; que salsichas eram misturadas a papelão; e outras coisas do gênero.
empresas que estariam ‘adulterando’ as carnes e embutidos; que alguns produtos estavam recebendo água para aumentar o peso; que salsichas eram misturadas a papelão; e outras coisas do gênero.
O primeiro
impacto foi devastador: numa pesquisa feita pela empresa Mind Miners na
segunda-feira seguinte, apenas 3 dias após a divulgação dos resultados da
operação, e na qual foram entrevistadas mil pessoas, metade afirmou que pretendia diminuir o consumo de carne após a
notícia das práticas envolvendo as empresas, enquanto 16% declararam ter jogado fora peças de carne que já
haviam comprado, e 95% disseram acompanhar de perto o desdobramento do caso. As
marcas que mais apareceram na pesquisa foram, claro, as mais conhecidas do
mercado: Friboi, Sadia, Seara e Perdigão. (http://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/2017/03/23/o-que-o-consumidor-pensa-sobre-a-carne-fraca.html)
Hoje já
sabemos que o quadro não era tão feio quanto pintaram. As ‘práticas criminosas’
não colocavam em risco a qualidade dos produtos e algumas eram simplesmente mal
entendidos. E, principalmente, que os efeitos poderiam ter sido evitados caso
especialistas tivessem sido consultados antes da divulgação dos resultados da
operação. No final, ela se revelou exatamente o que era para ser desde o
início: uma operação contra os fiscais que aceitavam suborno da indústria (ou
que exigiam suborno da indústria). O próprio presidente da Associação Nacional
dos Delegados de Polícia Federal, Carlos Eduardo Sobral, disse que foi um
"erro" a forma como a investigação foi divulgada.
Pois bem,
este foi o lado ruim da comunicação no caso: a forma como a Polícia Federal
meteu os pés pelas mãos ao divulgar a operação. Nota zero! Mas, dito isto, e
agora que o estrago está feito na imagem das empresas, o que elas devem fazer
para reverter o prejuízo? O lado bom da comunicação é a resposta.
Toda empresa
(principalmente as grandes) deve estar preparada para uma eventual crise que
possa afetar sua imagem. E deve agir imediatamente para não ficar à mercê dos
acontecimentos. Profissionais de comunicação, juntamente com os departamentos
jurídico, de vendas, de marketing e o CEO, devem se preparar para começar a
trabalhar na reconstrução da imagem da empresa, através de comunicados
divulgados à imprensa, comerciais em horário nobre nos principais veículos e,
nos dias de hoje, postagens nas redes sociais, onde estão seus clientes finais.
É também pelas redes sociais que se pode tomar conhecimento do que o público
está pensando sobre tudo isso. Importante neste momento é não ter várias
pessoas falando em nome da empresa. Se é para alguém falar, que seja alguém com
nome no mercado, que represente verdadeiramente a empresa, e que seja sempre
essa mesma pessoa a falar.
A maneira do
governo brasileiro agir também foi importante no caso, pois garantiu que os
países compradores dos nossos produtos voltassem rapidamente a confiar na
qualidade que sempre atestaram.
Enfim, um
caso que ilustra bem o que a comunicação pode fazer por uma marca (ou até mesmo
por todo um setor e por um país), se for bem ou mal utilizada.


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